Oi amigas
Na edição que enviei hoje mais cedo, acabei deixando de fora dois pontos importantes. Ao falar sobre o estilo dos frequentadores do Rock En Baradero, comentei que não existia intenção e performance na forma como elas se vestiam, mas isso não é totalmente verdade. Primeiro porque não posso falar em nome de todas as pessoas e acho que o público não era exatamente homogêneo para fazer esse corte.
Segundo que roupa nunca é só roupa. Estamos comunicando algo com aquilo que vestimos, ainda que de forma inconsciente. Meu namorado, por exemplo, sempre diz que prioriza função sobre forma na hora de se vestir e até isso diz alguma coisa. Diz muito, na verdade. Então, por mais que a estilêra geral observada no Rock En Baradero pareça menos autoconsciente e não tenha um papel tão emblemático na identidade do evento, isso não quer dizer que as pessoas simplesmente são.
Nas palavras de outra importante padroeira dessa newsletter, Thais Farage:
"Ah, mas é só roupa." Roupa é só roupa enquanto produto no cabide. Roupa no corpo é moda, estilo, goste você ou não. E moda é uma ideia, um conjunto de códigos, que mudam muito com o passar do tempo. (…) Não é só roupa. É uma ideia de mundo que se expressa através do que a gente veste e também através do que a gente acredita, repete, julga e consome quando falamos de roupa.
Acho importante destacar isso para não criar uma espécie de hierarquia entre esse tipo de expressão e o que vemos num festival como o Lollapalooza, por exemplo, como se um fosse mais puro que o outro. Por mais que eu seja crítica às movimentações capitalistas que transformaram o Look de Festival em uma atração a parte, não acredito que a solução seja simplesmente não se importar com nada disso. Até porque, a gente sabe bem, não precisar pensar em como se veste e abraçar uma suposta neutralidade é um baita privilégio masculino. Can’t relate.
A outra coisa que esqueci de falar é que quem se interessa por performance e Looks de maneira geral certamente vai gostar do tratado maluco que eu e a
escrevemos em 2018, logo depois dos primeiros shows do Harry Styles no Brasil - disponível em duas partes, aqui e aqui. A forma como boa parte das fãs se veste nos shows dele é um apêndice bem interessante de se pensar junto com tudo que escrevi lá na minha cronologia - inclusive lembro que minha maior dificuldade ao escolher meu próprio look para tal evento foi conciliar peças que remetessem a ele com a necessidade de estar confortável, já que passaria muitas horas na fila e seria espremida por muitas adolescentes barulhentas.Já no show que rolou ano passado, minha amiga e musa Gabriela Couth estava com uma saia paetês. Uma amiga usando paetês parece ser um ponto de referência infalível e automático para se ter em uma multidão, mas quando você está no show do Harry Styles, andar em busca da sua amiga de paetês é basicamente tentar achar seu namorado roqueiro que foi de camiseta preta num show do Metallica. Mesmo em 2018, o paetê seria impensável como dresscode, e olha onde chegamos.
Enfim, era isso que eu queria dizer. Se você perdeu a primeira parte dessa edição e não faz ideia do que estou falando, é só seguir em frente conferir minha grande Cronologia do Look de Festival.
Só queria deixar o adendo que Deus me livre de ir num show do Metallica. 🤠