Oi amigas
Preparem-se porque hoje eu vou hablar.
Chegamos na quinta edição desta newsletter (será que agora vai?) e sinto que estou diante do momento certo para dividir com vocês a minha opinião mais polêmica sobre skincare: para mim, o mito da pele oleosa é um dos terraplanismos mais socialmente aceitos da cultura universal.
Hello stranger, como vai você? Seja bem-vinde ao Boudoir da AV, somos todas amigas aqui.
💅 Meu nome é Anna Vitória, eu sou jornalista, estrategista, pesquisadora, uma anticapitalista viciada em cremes que pensa demais e tá sempre de olho em um blush novo. Não sou dermatologista e tudo que escrevo aqui é de minha total e completa irresponsabilidade. Clique aqui para saber mais.
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Se você observa a sessão de cuidados com a pele em qualquer farmácia, pode apostar que boa parte dos produtos são pensados para pele oleosa. Da mesma forma, a maioria das linhas de skincare prioriza texturas em gel de rápida absorção, cremes leves com efeito matte para não pesar e nem deixar o rosto com aparência brilhosa. Se é um limpador facial que você procura, promessas como “controle de oleosidade” e “limpeza profunda” são as mais presentes em qualquer rótulo.
Até aí tudo bem. Vivemos em um país tropical, que faz calor quase o ano todo, em quase todas as regiões. É natural que a maior parte da população tenha pele oleosa ou pelo menos sofra com os efeitos desse clima, que costuma favorecer o aumento da oleosidade ao longo do dia. Nossa alimentação é bem gordurosa1, com muita carne e derivados de leite, o que favorece também o surgimento de acne.
Como eu já disse: até aí tudo bem.
O problema é que isso cria um inconsciente coletivo que entende que cuidar da pele é sinônimo de combater a oleosidade. A pele completamente opaca por muito também foi quase um fator de distinção social, já que a aparência oleosa é também associada a desleixo e falta de higiene, principalmente sobre as mulheres e demais grupos marginalizados. Nos casos mais graves, pessoas são discriminadas por quem acredita que uma pele “imperfeita” é indicativa de doença contagiosa. Baixo astral demais.
Daí pro look reboco que foi imperativo até pouco tempo atrás são dois palitos.
Lá na adolescência, quando fui numa dermatologista pela primeira vez, saí com recomendação de todos aqueles produtos que citei acima: sabonete facial de limpeza profunda antiacne (e eu nem tinha espinhas!), esfoliante para usar 2x na semana e hidratante em gel levíssimo. O fato da pele do meu corpo ficar em carne viva de tão sensível durante o outono e o inverno (época de seca braba no cerrado) não parecia ser digno de nota.
Aos 15 anos eu não era exatamente disciplinada com esses cuidados, mas parte da minha displicência vinha do fato de que aqueles produtos me faziam mal. Sempre que seguia a rotina da médica, sentia o rosto repuxado, incômodo, e depois de uma semana, aí sim, as espinhas apareciam.
Por estar passando pela puberdade e viver com a testa brilhando — sintomas típicos dessa fase — não passou pela minha cabeça que pudesse haver ali qualquer outro diagnóstico possível, que minha pele fosse algo além de oleosa.
Foi só por volta de 23 anos que resolvi acreditar no que diziam sobre hidratação ser importante, independentemente do seu tipo de pele, e o tal efeito rebote. Lendo obsessivamente sobre o tema descobri que sempre tive pele seca e sensível, todos os desconfortos que sentia vinham do fato de estar agindo como se tivesse pele oleosa. Aqueles produtos estavam trabalhando ativamente para aniquilar todos os sebinhos maravilhosos que minha pele tanto precisava e é claro que a resposta foi produzir AINDA MAIS sebo para tentar controlar a situação. Nosso corpo é inteligente demais e digo isso sem ironia nenhuma.
Não à toa, assim que virei essa chave de pensamento, minha pele mudou completamente.
A partir disso, passei a levantar muito a bandeira que nós, pessoas de pele seca, existimos e queremos, sim, cremes espessos que deixam o rosto melecado, contra a ditadura da textura em gel e do acabamento matte no skincare. Parece besta, e é, mas eu estudei Teoria do Reconhecimento no mestrado e não posso ignorar a importância que existe em poder nomear experiências e encontrar sua tribo, mesmo que seja numa prateleira de farmácia. É uma piada, mas também é algo que me faz feliz.
Para a nossa alegria (não, pera), a pandemia veio e mudou radicalmente os paradigmas de skincare. Não sei se você reparou, mas de uns anos para cá, ter uma pele viçosa, brilhante e hidratada se tornou o #goals. A pandemia foi fundamental para essa mudança porque de repente não fazia sentido rebocar a pele pra ficar dentro de casa, e foi aí que os cuidados com a pele tomaram parte do espaço que a maquiagem ocupava nas nossas vidas (e bolsos). De repente, ser chique era ser uma mulher hidratada e cheia de glow, com a pele brilhante como a superfície de um donut2. Num contexto de crise econômica, política e saúde pública, o viço não deixa de ser um marcador de classe relevante.
Please go touch some grass
Claro que nem tudo nessa história se resume a sombras e dragões.
Todo mundo tava precisando desesperadamente de uma coisinha boa na vida e, não sei vocês, mas para mim apostar em hidratação sempre me pareceu mais indulgente e gostoso do que essa lógica do combate da patrulha antioleosidade. Se antes eu passava óleo corporal Séve no rosto para dar conta do mês de agosto em Uberlândia (MG), hoje eu tenho pelo menos uns três óleos faciais no armário, as pessoas pararam de me olhar como se eu fosse doida quando compartilho essa predileção.
Ao mesmo tempo, se estamos falando em mudança de mercado, daqui a pouco a lógica muda novamente e lá vamos nós reformular aquilo que desejamos de acordo com esses novos estímulos - olha só o que aconteceu com a moda quando a galera simplesmente cansou de fingir que se importa com diversidade. Jessica DeFino, jornalista de beleza que gosto bastante, diz algo bem contundente sobre o atual cenário: a pele é uma instância esquecida pelos movimentos de aceitação que rolaram nesses últimos 10 anos; a cultura da dieta dos anos 90 e 2000 se transmutou na cultura do skincare.
A “pele com cara de pele” desejada hoje é ainda mais inatingível porque demanda, além de condições genéticas bem específicas, hábitos rigorosos que vêm atrelados a um estilo de vida privilegiado, produtos sofisticados, tratamentos estéticos caros e uma série de filtros.
Bom-xi-bom-xi-bom-bom-bom.
E sabe o que é pior? Mesmo com toda essa palhaçada, a oferta de um bom cremão pro rosto segue escassa. Nós, princesas da pele seca, precisamos continuar na luta, uma latinha de Nivea por vez. Muda Brasil!!!
Meus cinco hidratantes favoritos para o inverno
Nada como uma lista de cremes lindos e cheirosos para esquecer os horrores do capitalismo. Ao longo dos anos testei MUITOS hidratantes e é um pouco triste perceber que acabo sempre voltando aos mesmos rótulos. Fico feliz que tenho esses poucos e bons para confiar, mas é um pouco chato não poder variar tanto assim minha.
Hidratante Reparador (Sallve)
O que me fez parar de passar óleo Séve no rosto não foi a popularização dos óleos faciais, mas sim o lançamento do Hidratante Reparador da Sallve. Conhecido carinhosamente como “cremão”, ele pode demorar a convencer quem é mais sedenta por conta da embalagem em bisnaga (não sei vocês, mas CREMÃO pra mim é sinônimo de POTÃO) e a textura leve, mas não se enganem: é o hidratante facial mais potente que já usei.
Tão potente que a vida ficou até um pouco mais sem graça depois que comecei a utilizá-lo. Como assim minhas buscas acabaram? Qual o meu propósito agora?
Depois de dois invernos em sua companhia, este ano decidi testar outras possibilidades. Resultado: mesmo com dois hidrantes e um óleo abertos na prataleira3, precisei recorrer ao Hidratante Reparador de maneira emergencial porque não aguentava mais a sensação de ardência no rosto.
Uso na minha rotina noturna diariamente e também durante o dia em períodos mais críticos. Além de tudo o custo benefício é incrível: R$ 69,90 por 40 gramas de produto. Por aqui, uma bisnaga costuma durar de dois a três meses com uso diário. Aproveite que a Sallve tá com promoção especial de inverno e compre com desconto usando o cupom INVERNO20.
Tô dizendo porque sou legal, mas aguardo o contato da Julia Petit pra me patrocinar.
Skin Food (Weleda)
Me indicaram esse no Twitter nas inúmeras vezes em que pedi dicas de hidratante para pele seca. Para mim o Skin Food é a definição perfeita daquela indulgência que falei acima: absurdamente cheiroso, mas sem agredir os sentidos (um cheirão herbal profundo extremamente chique); bem espesso. Sei que sou exceção nessa, mas ele demora um bocado pra ser absorvido, deixa o rosto brilhante e pegajoso e eu simplesmente adoro a sensação.
Eu fetichizo muito os produtos ds Weleda e acho a marca o auge do chique, então pode ser que minha opinião seja enviezada.
Uso na rotina noturna todos os dias, mas se você não tem a pele tão castigada como a minha pode ser melhor limitar pra 1x na semana ou algo do tipo, ou então usá-lo só em áreas mais sensíveis. Há alguns anos eles lançaram uma versão supostamente mais leve, o Skin Food Light, mas nunca testei pra dizer se presta.
Weleda tem um preço mais salgado de modo geral, mas se organizar direitinho dá pra comprar com desconto. Recomendo investir na embalagem maior, de 75g, pelo custo benefício. Hoje, na Amazon, sai por R$ 89,90.
Nivea de latinha (Nivea)
Minha segunda opinião mais polêmica sobre skincare: a vida é muito curta pra não ter um Nivea de latinha morando na sua cabeceira.
Boudoir da AV é um veículo Nivea de latinha apologist e se você veio aqui falar mal dele, saiba que sua opinião não é bem-vinda. Se você é contra, te digo com tranquilidade que já sei de todos os argumentos e simplesmente não ligo. Se você defende o creme com embasamento científico, fico feliz por você, compartilhe nos comentários para que outras pessoas sejam libertadas, mas eu também não ligo!
Minha relação com esse creme é puramente emocional e não pretendo mudar.
Dito isso, foi o primeiro hidratante realmente hidratante que usei na vida, não me arrependo de nada. Assim como o Skin Food, o Nivea de Latinha é denso, rico, uma textura espessa difícil de espalhar e difícil de ser absorvida. Para quem gosta é a glória, quem não gosta tem outros cremes. Isso sem falar no charme que é aquela latinha, a delícia que é o cheirinho clássico da Nivea e o êxtase quase sexual que a experiência de abrir uma embalagem nova e ver aquela TAMANCA de creme.
Usei por anos diariamente na minha rotina noturna, mas se você não tem a pele tão castigada como a minha pode ser melhor limitar pra 1x na semana ou apenas em áreas sensíveis. Gosto de passar uma camada bem grossa embaixo dos olhos quando estou muito cansada (é ótimo para olheiras) e deixo do lado da cama para usar nos joelhos, cotovelos e pés antes de dormir.
Há alguns meses, encarando o outono extremamente árido de Buenos Aires, aproveitei o câmbio favorável para comprar uma latinha jumbo e fazer o slugging que está na moda entre os jovens. Não me arrependo de nada.
Na Amazon ele sai por R$ 32,90 na versão de 145g - o que deve ser suficiente para uns 4 meses de uso, com tranquilidade.
Cetaphil de Potão (Cetaphil)
Até o ano passado eu me virava com hidratantes corporais mais básicos (como esse aqui, da Neutrogena), fazendo um combo com óleo corporal quando a situação estava mais crítica (o óleo de amêndoas básico de farmácia super dá conta do recado, mas não posso deixar de falar do meu querido Natura Séve, que além de tudo é muito cheiroso e faz também as vezes de perfume). Mas não sei o que aconteceu que de uns tempos para cá a sensibilidade do corpo aumentou e precisei fazer um upgrade nesse setor.
O escolhido foi esse grande querido chamado Cetaphil de Potão. Já tinha usado ele há alguns anos numa crise alérgica braba, mas na época o valor era meio impeditivo para fazer uso contínuo. Lembrei dele quando a crise voltou e começamos um novo relacionamento. É o cremão que tanto amo, bem espesso e nutritivo, mas tem absorção um pouco mais rápida, zero fragrância. É realmente um produto de tratamento, sem frescura, mas eu também fetichizo um pouco as marcas cuja idêntidade é super médica e cheia de firulas.
É caro? É caro. O que eu faço é ficar de olho em promoção e escolher sempre a maior embalagem, o custo-benefício realmente compensa. Por aqui um potão de 453g de Cetaphil dura cerca de dois meses. Hoje tá saindo por R$ 103 na Amazon, mas não é difícil encontrar por R$ 60 - R$ 70 janjas.
Balm Carmex (Carmex)
Muitos tentam, poucos conseguem. O balm labial Carmex era o presente que meu amigo Matheus sempre trazia pra gente naquela época gloriosa que o dólar tava R$ 2 e tava todo mundo viajando a rodo. É o hidratante labial perfeito: super potente e tem um sensorial gostoso, com refrescância na medida certa.
Eu acho que quase todo mundo que tenta usar mentol em batom pesa demais a mão, até hoje só o Carmex me agradou nesse sentido. Não à toa, é o único hidratante labial que meu namorado não reclama na hora do beijo de boa noite.
Ano passado, quando finalmente venci na vida e fui pra Europa pela primeira vez (me imagine falando isso agitando os braços cheios de pulseiras douradas), trouxe o tanto de Carmex que foi possível num cenário de euro a R$ 5,50: duas latinhas. Desde que elas acabaram, no início desse ano, tenho tentado substituí-las por algo equivalente e que não custe caríssimo, já que balm é um negócio que vai embora feito água por aqui.
Dá pra encontrar na Amazon e no Mercado Livre por um preço mais ou menos ok (cerca de R$ 120 + frete por 3 latinhas que duram uns bons 3/4 meses cada), mas como nunca fiz esse tipo de compra, prefiro não indicar nenhum vendedor. Na falta dele, quem anda segurando minha onda é o balm da Nivea, mais especificamente o Med Repair, mas ele anda tão caro que ando de bode.
Se você tiver aí uma indicação de balm potente e não muito caro, vou ficar feliz em saber (e testar!).
Espero que tenha gostado da edição! Aos poucos, estou fazendo alguns ajustes para entender, de fato, o que esse projeto é, o que ele pode ser e como posso me organizar para passar mais tempo por aqui.
Se você ainda não segue a newsletter, aproveite para fazer isso agora e receber as próximas edições direto na sua caixa de entrada.
Por ora, fico por aqui. Obrigada pela companhia e até a próxima!
Um beijo,
Anna
Na pequena temporada que passei em Buenos Aires em abril tive mais espinhas do que em qualquer outro momento da vida, sigo impressionada com a existência de um país cuja alimentação se resume a carne vermelha, embutidos, queijos, medialunas e fritura. Nada contra.
Sinto que por aqui a tendência não pegou com esse nome, por isso fiquei meio chocada quando descobri que o glazed donut lá fora é usado para falar de pele (só sabia das unhas). A Jessica DeFino fez uma ótima newsletter sobre isso: Bite Me, Hailey Bieber.
Uma das minhas regras pessoais para controlar meus impulsos consumistas é nunca ter mais de um produto aberto da mesma categoria em casa. Para conhecer as outras regras, confira a primeira edição da newsletter.
Tô um pouco atrasada pra comentar esse post mas sobre hidratante labial, recentemente achei numa farmácia o 'Regenerador Labial' da Nivea. Ele tem essa embalagem de bisnaga parecidinha com o Carmex, tem um mentoladinho parecido e eu acho que ele hidrata bem. Tá me salvando nesse tempo seco (e as vezes frio) do inverno atual.
Sobre pele, a minha é mista mas é mista de extremos. Ela fica extremamente seca e extremamente oleosa dependendo do clima e época do ano. Eu costumo usar esses cremes e loções dermatológicas tipo da Cetaphil, Cerave, daqueles que podem ser usados no corpo e rosto (altero entre creme na fase pele seca e loção na fase pele oleosa). Tem um desses multiusos que é um queridinho meu, o Trixera da Avéne (que é carinho mas vez ou outra aparece numa promo boa). Ele é uma loção que balanceia muito bem hidratação e nutrição, a sensação é como se tivesse usado um óleo junto de uma loção bem hidratante, dá um viço maravilhoso. Se você gosta de óleo facial, pode acabar gostando dele também.
Meu deus que eu não to sozinhaaaaa! To aqui abraçada na minha latinha de Nivea pensando ma tristeza que é a sensação de pele áspera e repuxenta que me acompanhou a adolescência todo, que ódio daquele gelzinho verde que deixava minha cara apertada. Nesse inverno seco e sujo, apoio a campanha cremão para sequinhas e seconas. Que texto foda. E ótimas dicas!!